Oxum é o nome de um rio em Oxogbo, região da Nigéria. É ele
considerado a morada mítica da Orixá. Apesar de ser comum a associação entre
rios e Orixás femininos da mitologia africana, Oxum é destacada como a dona da
água doce e, por extensão, de todos os rios. Portanto seu elemento é a água em
discreto movimento nos rios, a água semi-parada das lagoas não pantanosas, pois
as predominantemente lodosas são destinadas à Nanã e, principalmente as
cachoeiras são de Oxum, onde costumam ser-lhe entregues as comidas rituais
votivas e presentes de seus filhos-de-santo.
Oxum tem a ela ligado o conceito de fertilidade, e é a ela
que se dirigem as mulheres que querem engravidar, sendo sua a responsabilidade
de zelar tanto pelos fetos em gestação como pelas crianças recém-nascidas, até
que estas aprendam a falar.
Dentro desta perspectiva, Iemanjá e Oxum dividem a
maternidade. Mas há também outro forma de análise; a por faixas etárias,
correspondentes a cada arquétipo básico.
Nanã é a matriarca velha, ranzinza, avó que já teve o poder
sobre a família e o perdeu, sentindo-se relegada a um segundo plano. Iemanjá é
a mulher adulta e madura, na sua plenitude. É a mãe das lendas – mas nelas,
seus filhos são sempre adultos. Apesar de não ter a idade de Oxalá ( sendo a
segunda esposa do Orixá da criação, e a primeira é a idosa Nanã ), não é jovem.
É a que tenta manter o clã unido, a que arbitra desavenças entre personalidades
contrastantes, é a que chora, pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa
e correm os mundos, afastando-se da unidade familiar básica.
Para Oxum, então, foi reservado o posto da jovem mãe, da
mulher que ainda tem algo de adolescente, coquete, maliciosa, ao mesmo tempo
que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Sua responsabilidade em
ser mãe se restringe às crianças e bebês. Começa antes, até, na própria
fecundação, na gênese do novo ser, mas não no seu desenvolvimento como adulto.
Oxum também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade
em si, sendo considerada pelas lendas uma das figuras físicas mais belas do
panteão mítico iorubano.
Oxum é ambiciosa. Segundo a tradição iorubá, seu metal é o
cobre – mas a correlação com o ouro não está basicamente errada, pois, de
acordo com os historiadores, o cobre era o metal mais caro conhecido naquela
região. Oxum, portanto, gosta das riquezas materiais, mas não numa perspectiva
de usura nem uma mesquinhez de quem quer ter riquezas para escondê-las.
A iniciação (na Umbanda ou no Candomblé) é um nascimento e o
poder da fecundidade tem de estar presente, pois Oxum mostrou que a
menstruação, em vez de constituir motivo de vergonha e de inferioridade nas
mulheres, pelo contrário proclama a realidade do poder feminino, a
possibilidade de gerar filhos.
Além disso, o fluir nada fixo da água doce pelos diversos
caminhos, a maneabilidade do elemento se manifestam no comportamento de Oxum.
Sua busca de prazer implica sexo e também ausência de conflitos abertos – é dos
poucos Orixás iorubas que absolutamente não gosta da guerra.
O arquétipo psicológico associado a Oxum se aproxima da
imagem que se tem de um rio, das águas que são seu elemento; aparência da calma
que pode esconder correntes, buracos no fundo, grutas - tudo que não é nem reto
nem direto, mas pouco claro em termos de forma, cheio de meandros. Os filhos de
Oxum preferem contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo diretamente, por
isso mesmo, são muito persistentes no que buscam, tendo objetivos fortemente
delineados, chegando mesmo a ser incrivelmente teimosos e obstinados.
A imagem doce, que esconde uma determinação forte e uma
ambição bastante marcante, colabora a tendência que os filhos de Oxum têm para
engordar; gostam da vida social, das festas e dos prazeres em geral.
O sexo é importante para os filhos de Oxum. Eles tendem a
ter uma vida sexual intensa e significativa, mas diferente dos filhos de Iansã
ou Ogum.
Os filhos de Oxum são mais discretos, pois, assim com
apreciam o destaque social, temem os escândalos ou qualquer coisa que possa
denegrir a imagem de inofensivos, bondosos, que constroem cautelosamente.
Na verdade os filhos de Oxum são narcisistas demais para
gostarem muito de alguém que não eles próprios – mas sua facilidade para a
doçura, sensualidade e carinho pode fazer com que pareçam os seres mais
apaixonados e dedicados do mundo.
Até um dos defeitos mais comuns associados à
superficialidade de Oxum é compreensível como manifestação mais profunda: seus
filhos tendem a ser fofoqueiros, mas não pelo mero prazer de falar e contar os
segredos dos outros, mas porque essa é a única maneira de terem informações em
troca.