
É uma das rainhas das águas, sendo as duas salgadas: as
águas provocadas pelo choro da mãe que sofre pela vida de seus filhos, que os
vê se afastarem de seu abrigo, tomando rumos independentes; e o mar, sua
morada, local onde costuma receber os presentes e oferendas dos devotos.
Na África, a origem de Iemanjá também é um rio que vai
desembocar no mar. De tanto chorar com o rompimento com seu filho Oxóssi, que a
abandonou e foi viver escondido na mata junto com o irmão renegado Ossanhe.
Iemanjá se derreteu, transformando-se num rio que foi desembocar no mar. É a
mãe de quase todos os Orixás de origem iorubá.
É portanto semelhante às outras mães da água, o que é
compreensível, já que as diferentes tribos e nações acabaram por desenvolver o
culto a um Orixá feminino específico, que relacionavam com um rio da região. No
caso de Iemanjá, as lendas africanas já a identificavam com o mar.
Apesar dos preceitos tradicionais relacionarem tanto Oxum
como Iemanjá à função da maternidade, pôde estabelecer-se uma boa distinção
entre esse conceitos. As duas Orixás não rivalizam ( Iemanjá praticamente na
rivaliza com ninguém, enquanto Oxum é famosa por suas pendências amorosas que a
colocaram contra Iansã e Obá ). Cada uma domina a maternidade num momento
diferente.
No arquétipo psicológico, expandem-se as características
insinuadas pela descrição dos mitos e lendas de Iemanjá. Também fica fácil
entender os conceitos principais se mantivermos a comparação com o Orixá Oxum.
Como os filhos da mãe da água doce, os de Iemanjá, também gostam de luxo, das
jóias caras e dos tecidos vistosos. Gostam de viver num ambiente confortável e,
mesmo quando pobres, pode-se notar uma certa sofisticação em suas casas, se
comparadas com as demais da comunidade de que fazem parte.
Enquanto os filhos de Oxum são diplomatas e sinuosos, os de
Iemanjá se mostram mais diretos. São capazes de fazer chantagens emocionais,
mas nunca diabólicas. A força e a determinação fazem parte de seus caracteres
básicos, assim como o sentido da amizade e do companheirismo.
Como são pessoas presas ao arquétipo da mãe, a família e os
filhos têm grande importância na vida dos filhos de Iemanjá. A relação com eles
pode ser carinhosa, mas nunca esquecendo conceitos tradicionais como respeito e
principalmente hierarquia.
São pessoas que não gostam de viver sozinhas, sentem falta
da tribo, inconsciente ancestral, e costumam, por isso casar ou associar-se
cedo. Não apreciam as viagens, detestam os hotéis, preferindo casas onde
rapidamente possam repetir os mecanismos e os quase ritos que fazem do
cotidiano.
Apesar do gosto pelo luxo, não são pessoas obcecadas pela
própria carreira, sem grandes planos para atividades a longo prazo, a não ser
quando se trata do futuro de filhos e entes próximos.
Todos esses dados nos apresentam uma figura um pouco rígida,
refratária a mudanças, apreciadora do cotidiano. Ao mesmo tempo, indicam alguém
doce, carinhoso, sentimentalmente envolvente e com grande capacidade de empatia
com os problemas e sentimentos dos outros. Mas nem tudo são qualidades em
Iemanjá, como em nenhum Orixá. Seu caráter pode levar o filho desse Orixá a ter
uma tendência a tentar concertar a vida dos que o cercam - o destino de todos
estariam sob sua responsabilidade . Os filhos de Iemanjá demoram muito para confiar
em alguém, bons conhecedores que são da natureza humana. Quando finalmente
passam a aceitar uma pessoa no seu verdadeiro e íntimo círculo de amigos,
porém, deixam de ter restrições, aceitando-a completamente e defendendo-a, seja
nos erros como nos acertos, tendo grande capacidade de perdoar as pequenas
falhas humanas.
Um filho de Iemanjá pode tornar-se rancoroso, remoendo
questões antigas por anos e anos sem esquecê-las jamais.