
A marca mais forte de Omolu-Obaluaê não é a exibição de seu
sofrimento, mas o convívio com ele. Ele se manifesta numa tendência
autopunitiva muito forte, que tanto pode revelar-se como uma grande capacidade
de somação de problemas psicológicos (isto é, a transformação de traumas
emocionais em doenças físicas reais), como numa elaboração de rígidos conceitos
morais que afastam seus filhos-de-santo do cotidiano, das outras pessoas em
geral e principalmente os prazeres. Sua insatisfação básica, portanto, não se
reservaria contra a vida, mas sim contra si próprio, uma vez que ele foi
estigmatizado pela marca da doença, já em si uma punição.
Em outra forma de extravasar seu arquétipo, um filho do
Orixá , menos negativista, pode apegar-se ao mundo material de forma sôfrega,
como se todos estivessem perigosamente contra ele, como se todas as riquezas
lhe fossem negadas, gerando um comportamento obsessivo em torno da necessidade
de enriquecer e ascender socialmente.
Mesmo assim, um certo toque do recolhimento e da autopunição
de Omolu-Obaluaê serão visíveis em seus casamentos: não raro se apaixonam por
figuras extrovertidas e sensuais que ocupam naturalmente o centro do palco,
reservando ao cônjuge de Omolu-Obaluaê um papel mais discreto. Gostam de ver
seu amado brilhar, mas o invejam, e ficam vivendo com muita insegurança, pois
julgam o outro, fonte de paixão e interesse de todos.
O filho do Orixá oculta sua individualidade com uma máscara
de austeridade, mantendo até uma aura de respeito e de imposição, de certo medo
aos outros. Pela experiência inerente a um Orixá velho, são pessoas irônicas.
Seus comentários, porém, não são prolixos e superficiais, mas secos e diretos,
o que colabora para a imagem de terrível que forma de si próprio.