
Qualquer definição mais rígida é difícil e arriscada. Não se
pode nem dizer que seja um Orixá masculino ou feminino, pois ele é as duas
coisas ao mesmo tempo; metade do ano é macho, a outra metade é fêmea. Por isso
mesmo a dualidade é o conceito básico associado a seus mitos e a seu arquétipo.
Essa dualidade onipresente faz com que Oxumarê carregue
todos os opostos e todos os antônimos básicos dentro de si: bem e mal, dia e
noite, macho e fêmea, doce e amargo, etc.
Nos seis meses em que é uma divindade masculina, é
representado pelo arco-íris que, segundo algumas lendas é a ponte que
possibilita que as águas de Oxum sejam levadas ao castelo no céu de Xangô. Por
essa lenda, é atribuído a Oxumarê o poder de regular as chuvas e as secas, já
que, enquanto o arco-íris brilha, não pode chover. Ao mesmo tempo, a própria
existência do arco-íris é a prova de que a água está sendo levada para os céus
em forma de vapor, onde então se aglutinará em forma de nuvem, passará por nova
transformação química recuperando o estado líquido e voltará à terra sob essa
forma, recomeçando tudo de novo: a evaporação da água, novas nuvens, novas
chuvas, etc.
Nos seis meses consequentes, o Orixá assume forma feminina e
se aproxima de todos os opostos do que representou no semestre anterior. É
então, uma cobra, obrigado a se arrastar agilmente tanto na terra como na água,
deixando as alturas para viver sempre junto ao chão, perdendo em transcendência
e ganhando em materialismo. Sob essa forma, segundo alguns mitos, Oxumarê
encarna sua figura mais negativa, provocando tudo que é mau e perigoso.
É o Orixá da tese e da antítese. Por isso, seu domínio se
estende a todos os movimentos regulares, que não podem parar, como a
alternância entre chuva e bom tempo, dia e noite, positivo e negativo.
Conta-se sobre ele que, como cobra, pode ser bastante
agressivo e violento, o que o leva a morder a própria cauda. Isso gera um
movimento moto-contínuo pois, enquanto não largar o próprio rabo, não parará de
girar, sem controle. Esse movimento representa a rotação da Terra, seu
translado em torno do Sol, sempre repetitivo- todos os movimentos dos planetas
e astros do universo, regulados pela força da gravidade e por princípios que
fazem esses processos parecerem imutáveis, eternos, ou pelo menos muito
duradouros se comparados com o tempo de vida médio da criatura humana sobre a
terra.
Enquanto o arco-íris traz a boa notícia do fim da
tempestade, da volta do sol, da possibilidade de movimentação livre e
confortável, a cobra é particularmente perigosa para uma civilização das
selvas, já que ela está em seu habitat característico, podendo realizar rápidas
incertas.
Oxumarê é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas; das
pessoas pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem
sacrifícios para atingir seus objetivos .
Seus filhos estão entre aquelas pessoas que, de tempos em
tempos, mudam tudo em sua vida: mudam de casa, de amigos, de emprego, como se
ciclos se sucedessem sempre, obrigatoriamente, exigindo e provocando rompimento
com o passado e iniciando a busca de um novo equilíbrio que deverá persistir
até num novo momento de ruptura, desintegração e substituição.
Também são apontados nos filhos de Oxumarê certos traços de
orgulho e de ostentação, algo que os aproxima do clichê do novo-rico,
exibicionista, quando surge um grave problema para alguém de sua amizade, e que
precisa efetivamente da sua ajuda.
Fisicamente, os filhos de
Oxumarê tendem a se movimentar extremamente leve, pouco levantando os pés do
chão. Têm em comum com a cobra a facilidade em serem silenciosos, armarem seus
botes na vida sem que as pessoas em torno se apercebam disso e só atacando seus
inimigos quando têm plena certeza da vitória, que a vítima está encurralada num
território que não é o seu.